Alguns sentimentos estão enraizados de maneira forte demais no corpo para existir sem ele (…)
Maggie Stiefvater
Não entendo, apenas sinto. Tenho medo de um dia entender e deixar de sentir
Clarice Lispector
Mar de Emoções
Tem horas que a gente precisa mesmo só aceitar aquela onda de ansiedade que vem. Que bate como se fosse uma rocha sendo atacada na encosta do mar.
Ainda que o nosso equilíbrio mental se torne a areia que nos cerca, assim como uma bela praia, não deve servir como pequenos pedaços de tristeza, mas como um bloco de material no qual pode-se construir lindos castelos.
A areia da nossa mente se junta para criar a base onde vamos nos sentar e apreciar o mar das nossas emoções.
Com o seu ecossistema próprio. E tem tanta coisa pode ser encontrada lá no fundo do mar.
Igual a nossa mente…
Tem tanta coisa lá dentro que precisamos conhecer, desafundar, estudar.
Mas, assim como na água, devemos ir com calma. Para não nos afogarmos nas mágoas ou ficar sem ar somente confiando no quanto podemos aguentar sem ar.
Devemos respeitar esse ambiente, entender que muitas coisas não podem ser decifradas. Aprender a amar mesmo assim.
Porque não importa se estiver revolto ou calmo. Sempre será um lugar lindo. Cheio de possibilidades, recordações maravilhosas e muito amor.
Por isso, não desmereça os seus maremotos, nem subestime o seu mar de emoções. Somente aceite. Mantenha a distância quando necessário.
E, se possível, aprenda a surfar naquelas em que tiver mais confiança.
Se não souber nadar, encontre um profissional que te ajudará a entrar nessas águas sem se afogar. Nunca é tarde para aprender!
Somos 70% água, né? Então, bora colocar o nosso barquinho para navegar e descobrir novos horizontes que ainda estão escondidos nesse mundo líquido.
Foto por Ricardo Esquivel em Pexels.com
Sentimentos pirateados

Sempre se contentou em oferecer somente réplicas dos seus sentimentos.
Versões genéricas, mas com MUITO pouco da formulação original
Vendia cada um deles em bancadas promocionais, só que as mais escondidas possíveis. Daquelas que ficam no fundo da loja, empoeiradas, com várias tranqueiras em cima.
E quase ninguém chegou até lá. Nem para barganhar, nem para adquirir.
Por muito tempo achou que o produto era inadequado para venda.
Depois percebeu que não poderia garantir validade ou o funcionamento correto. Mal sabia a composição deles.
Quem comprou, decidiu usar o poder de “devolver em caso de insatisfação com o produto”.
A cada devolução, um alívio misturado com tristeza.
O atendimento ao cliente não era bom, o pós-venda também não…
As vendas que eram baixíssimas, zeraram.
Pensou em sair do mercado por falta de demanda.
Os itens se amontoaram no estoque, sem ver a luz do dia.
Tornou-se a vendedora isolada das outras barraquinhas. Percebeu que ninguém estava disposto a levar os produtos pirateados, meras cópias fajutas.
Até que descobriu como refazer seus artigos, utilizando compostos verdadeiros.
A barraquinha ganhou um novo brilho. Começaram a aparecer compradores.
Virou um sucesso, cativando cada um. Nunca mais sendo devolvido. Amizade, cumplicidade, esperança, alegria. AMOR! Emoções genuínas!
Quanto mais compartilhava, aumentava a demanda. Seus clientes, satisfeitos,receberam cartões de fidelidade.
Aprendeu a trabalhar com materiais de qualidade, sem esconder ou ocultar o que tinha de melhor!
E a vendedora nunca mais fez algo que não fosse autêntico. Porque a primeira enganada era sempre ela.
Sua vida mudou quando trocou os falsificados pelos originais!
Então, se puder, escolha sempre ser real. Evite os sentimentos pirateados!
- Foto por Plush Design Studio em Pexels.com
Todo túnel tem sua luz no final!
Eu consigo sentir as paredes se fechando. O quarto ficando escuro enquanto as janelas desaparecem.
A realidade se mistura aos devaneios. Posso ouvir os sons ficando para trás.
Em todos os anos usando a redoma da minha mente com a desculpa de proteção, nunca pensei que seria engolida por ela. Por um espaço que criei.
Sou rodeada pelo sentimento de inadequação. O não pertencimento que sempre me foi tão comum.
Será que vivi durante esse tempo? Ou foi só um estado de sonambulismo que me manteve andando sem rumo?
Termino num labirinto autoconcebido. Os pés procuram a direção certa, sem firmeza para dar um passo à frente.
A mente cheia de pequenos tornados que giram com luzes caleidoscópicas, tentando se adequar à escuridão.
Todo o meu ser é engolido pela sombra dos meus próprios medos.
Deixo meu corpo se estender pelo chão frio. Envolvido pela escuridão.
A solidão parece ser a única possibilidade.
Até que uma fresta, uma centelha iluminada chama a minha atenção.
Não sei de que reduto escondido da minha alma ela vem, nem como acessá-la. Mas carrega uma aura de amor e esperança.
O caminho até ela pode ser demorado ou rápido. Exigir força ou astúcia.
É difícil afirmar o que será necessário.
Mas nunca saberei se não tentar.
Olhar para o pontinho iluminado me traz confiança.
Jogada no piso. Busco a força interna para sair desse vórtice claustrofóbico em que cai.
Ergo a cabeça em direção à claridade. A saída!
Levanto, cambaleante e um pouco confusa. Sem entender bem qual o caminho.
Mas sabendo que, em algum lugar, uma fagulha brilha por mim.
Cheia de possibilidades, de alegrias, novas experiências. Sorrisos, abraços e afeto genuíno.
Com a total certeza de que sempre haverá a luz no fim do túnel!
E eu vou chegar até a minha.
- Foto por Pixabay em Pexels.com
Fingidores de nós mesmos
O poeta é um fingidor.
Mas não é só ele que finge sua dor.
De alguma maneira, todos temos um pouco dessa poesia.
Escondemos o sofrimento. As angústias. Deixamos lá no fundo da alma.
Cada vez que vestimos as nossas máscaras de sorrisos. As armaduras de palavras bonitas e motivacionais.
Nos blindamos.
Enchemos os pulmões para expirar ao mundo algo, que na verdade, é só uma tentativa de nos convencer que realmente acreditamos naquilo.
Nos enganamos.
A esperança infinita que temos num futuro melhor, nas coisas que vão evoluir.
Na coração que vai se emendar e não vai voltar a se partir.
Somos tão poetas, que fingimos facilmente. Por trás de cada palavra, a confusão que está em nossa mente.
Nos enrolamos.
Vivendo personagens diários, o choro limpa a alma, tenta purificar o que está nos sujando por dentro.
Passar a limpo, quem sabe, todos aqueles rascunhos de nós.
Que ficam embolados no meio da tentativa de virar uma versão final.
Nos revisamos.
Os personagens que testamos, todos os dias. Que apresentamos ao mundo como se fosse a realidade.
Por medo de julgamentos. De incompreensão. De isolamento.
Por uma necessidade social, uma opressão ou um sentimento.
Nos transformamos.
Encarnamos tantas faces, mas quando é que seremos a nossa própria.
A que vemos no espelho quando não precisamos mais interpretar a nós mesmos para o mundo?
Sabemos que a cada momento, tudo mudo. Inclusive a gente.
Nos adaptamos.
Mas mudar não é manipular a imagem. É crescer. Evoluir.
Abraçar aquilo que nós faz especial. Alterar o que faz mal.
Torço para que um dia, sejamos a versão honesta, real.
Nos aceitamos.
Com nossos defeitos, tentativas e dores. Aceitas no coração e por todos aqueles que nos amam.
A máscara cairá.
E não precisaremos mais fingir a dor que deveras sentimos.
Nos mostramos.
- Foto por gentina danurendra em Pexels.com