
E não é só de listas que a audiovizueira vive, gente!
Às vezes vai ter uma espécie de resenha ou só um momento em que uma certa espectadora precisa desopilar o seu fígado das séries, filmes ou demais produções assistidas.
E por que não começar com uma série que eu ACABEI de terminar, maratonar e simplesmente não consigo desapegar? (Esse review também servira como uma terapia para mim). Cujas histórias se entrelaçam de alguma forma com a sua. E nos deixam em uma roda gigante de sentimentos que me deixa, normalmente, num momento depressivo pós- season finale.
Por isso, bora falar de Community. (AVISO: Contém traços de spoiler!!)
A série, criada por Dan Harmon que estreou em 2009, mais especificamente no dia 18 de novembro e teve 6 temporadas. Conta a história de Jeff (Joe Mchale), um ex-advogado que perdeu o direito (tu dum tss) de atuar porque seu diploma era falso. Para resolver a questão, ele vai parar numa faculdade comunitária pensando que, dessa forma, conseguiria uma formação fácil e logo voltaria para o trabalho. Ele é um mulherengo, mentiroso e que adora dar discurso como forma de convencer e manipular as pessoas. Poderia ser uma série só assim, com ele tentando tirar proveito da sua lábia e terminar os estudos de qualquer jeito. E logo no primeiro episódio ele cria um grupo de estudos para conseguir ficar com uma mulher que viu no campus.
Mas Community é muito mais do que isso! É todo o processo de um grupo de estudos que vira, basicamente, uma grande família (disfuncional e às vezes maluca, mas que se ama e nunca deixa de se apoiar!)
Originalmente, são 7 personagens principais: Jeff, Britta (Gillian Jacobs) – a mulher que Jeff quer “se engraçar” e uma pessoa que sempre quer lutar por algo, mas não sabe bem pelo quê, Abed (Dany Pudi) – um rapaz que vê o mundo como se fosse uma produção audiovisual e tem dificuldades em se relacionar com as pessoas, Annie (Alison Brie) – uma garota certinha e estudiosa que faz de tudo para ficar entre os melhores, Troy Donald Glover) – um ex-atleta e garoto popular que sempre precisar fingir ser outra pessoa para ser aceito no grupo, Shirley (Yvete Nicole Brown) – uma dona de casa, mãe, religiosa e recém- separada que foi traída pelo marido e Pierce – mais velho da turma e detentor dos maiores preconceitos e frases envolvendo afirmações inadequadas.
Vale ressaltar que, para completar o elenco e trazer grande parte de muitas cenas engraçadas e cheias de trocadilhos, temos o reitor Pelton (um administrador MUITO negligente, mas que é impossível de odiar) e o professor, Sr. Chang (uma montanha russa de maluquice) e o professor Duncan. Além de participações especiais, recorrentes e personagens que aparecem em temporadas específicas. Todos eles trazem suas excentricidades para a história, complementando o já genial elenco principal e fazendo parte das altas aventuras e empreitadas confusas.
Seria simples se cada um estivesse na sua caixinha, mas não é isso o que ocorre. Cada personagem tem o seu estilo, a sua fraqueza e sua força. São cheios de defeitos e isso nunca é escondido. Eles brigam, têm suas reconciliações, aí discutem de novo… E essa é a melhor parte da série. TODO MUNDO TÁ QUEBRADO. E tá tudo bem! Porque as pessoas são assim.
A ideia do grupo ser criado só para o Jeff conquistar alguém logo cai por terra (nos primeiros episódios, aliás) e isso abre espaço para o grupo de estudo se tornar algo permanente. Ainda que estudar nem sempre seja o forte deles.
Naquele espaço, todos, com suas diferenças, que são muitas, tornam-se uma família. Unidos por uma sala, uma mesa que defendem com unhas e dentes e um amor entre eles e pela confusa instituição em que estudam.
Aliás, o estudo e a qualidade dele são sempre questionados. Desde aulas que não fazem o menor sentido, até professores que estão lá só para fazer volume, a Universidade Comunitária da Greendale, localizada no Colorado tem o slogan que indica que “você já foi aceito”. Pode ser uma piada sobre ser muito simples ingressar lá, mas também fala muito sobre o fato de se aceitarem.
Os personagens, ao longo dos seis anos (incluindo uma piada de #seistemporadaseumfilme), participam de aulas para contar crédito e, mesmo com currículos que necessitam de matérias diferentes, acabam ao final da primeira temporada, aceitando que o laço não pode ser cortado e decidem, todos os semestres, cursarem alguma aula em conjunto. Isso é decidido depois de um episódio que normalmente contém discussões, sentimentos escondidos por trás de passivo-agressividade, tentativas de ignorar o inevitável e situações absurdas que, na maioria das vezes, termina com um belo abraço em grupo.
Sempre ficamos de olho nos casais, né? Mas a dupla de maior destaque é Troy e Abed criam um laço especial como se fossem amigos de infância, ver essa relação desabrochar e ter suas piadas internas e momentos sérios relacionados ao crescimento de cada um é maravilhoso. Sem dar muito spoiler, tem uma galera se pegando, mas esse nunca é o maior destaque, acreditem ou não. (Mas sempre ficamos com a pulga atrás da orelha para saber quem vai ficar junto…)
Se você for assistir achando que é uma série com o pezinho na realidade, tipo Greek ou The Office, pode tirar o cavalinho da chuva. Os episódios da série, sim, falam da vida dos personagens dentro da faculdade, mas nada do que acontece lá é normal. Seja pela história ou pela forma como ela é contada. Não importa quão louca seja a história do episódio, sempre tem um fundo emocional forte, ao mesmo tempo nos fazendo rir, mas deixando o coração apertado. É impressionante!
O roteiro é brilhante e cheio de referências, a criação do mundo é maravilhosa e cada episódio conta com suas particularidades, desde alguns easter eggs, improvisação dos atores e uma produção cinematográfica e dedicação que nunca vi antes.
Coisas como uma guerra de paintball ou um forte de lençóis tornam-se histórias épicas. Com diálogos e personagens bem amarrados e produção e direção GENIAIS! Pessoas com talentos excepcionais que estão envolvidas com grandes franquias, inclusive (mas que não eram famosas à época).
E, olha, o que não falta é variedade criativa! Eles têm episódios em stop motion, animação, fazendo paródias de documentários, séries de crime. E são representações perfeitas, que prestam a homenagem, mas não deixam de ter seu estilo próprio. Tem episódio brilhante que se passa somente dentro da mesma sala. Uns que ocupam o campus da faculdade. Tem até viagem para o mundo da imaginação e teorias de multiversos!
Infelizmente, alguns atores saíram ao longo das temporadas uns fizeram mais falta, outros deixaram só um pouquinho de saudade, mas podemos aproveitar muitas temporadas com o elenco original e algumas adições foram fenomenais.
A série é uma produção gigantesca e altamente vanguardista. Um programa que nunca se levou a sério e sempre apontou suas próprias falhas e clichês ao quebrar a quarta parede que fazem Comunnity ser genial.
Ok, e não podemos negar que todas as piadas recorrentes, o humor ácido e ágil, um elenco fantástico e a criação de episódios/filmes tornaram a série uma referência atemporal (ainda que a qualidade e a audiência tenha decaído em uma certa temporada da “gás vazado” como eles chamam…). Seus fãs seguem apaixonados e seus episódios são destrinchados. A cada nova visualização, são encontrados detalhes que ficaram escondidos no fundo de uma cena ou uma piada que na hora não foi absorvida. Isso é algo que não acontece todo dia.
Mas, fora as questões técnicas, o que torna Community impactante para mim, além do fato de que, mesmo que não tenha visto quando estava no ar, sua estreia coincidiu com minha própria entrada na faculdade e isso já me trouxe uma conexão imediata e uma nostalgia, são os personagens. Eles me conquistaram. Cada um deles, com as suas falhas que nunca deixaram de ser apontadas, arrastadas e sofridas em conjunto e a forma como eles sempre conseguiram encontrar a luz dentro de um vórtice de escuridão.
A cumplicidade deles é algo que emociona, a forma como transpassa o grupo de estudos e se torna uma família completamente disfuncional, com personagens que se encaixam e se revezam sendo amorosos, rancorosos, empáticos, preconceituosos, passivo-agressivos e compreensivos, egoístas e amorosos.
São debatidos, ainda que envoltos em situações absurdas, piadas e referências, assuntos pesados como saúde mental, autocrítica, religião, morte, abandono, abuso de substâncias, família, amizade e aceitação. Todos eles são uma mistura de problemas e escolhas erradas. Todos terminaram ali por razões e momentos considerados trágicos e a decisão por uma faculdade comunitária é a epítome do “se tudo der errado eu vou pra lá”. Mas, ainda que eles tenham se encontrado quando “tudo deu errado”, estarem juntos não poderia ser mais correto.
Entre os altos e baixos do crescimento que tiveram juntos, muito do que foi lidado envolvia como cada um se entendia, foi uma trajetória de autoconhecimento e auto aceitação. Entender que é difícil compreender pelo que o outro passa, aceitar as suas escolhas e abraçar s decisões, ainda que não seja algo que você faria.
Ouvir e compreender os amigos, apoiar em todas as empreitadas malucas, mas também servir como um ponto de referência quando eles precisam de um puxão de orelha ou um conselho real.
Community é uma ode à amizade, mudança, ao caos e à aceitação. É uma representação da vida, dos nossos medos e ansiedades. E, principalmente, é aprender a desapegar. Entender que as pessoas chegam na nossa vida, fazem a diferença, nos transformam e, se tivermos sorte, nos ajudam a ser a melhor versão de nós mesmos. E, ainda que não estejam mais juntos todos os dias, não significa que os laços foram quebrados, que o amor acabou. É algo que estará guardando com carinho e, quando nos encontramos novamente, vamos rir, lembrar dos velhos tempos e vai parecer que nunca nos separamos.
Isso é sinal de uma boa série. A que deixa marcas. E que se torna parte de você.
Comunnity agora é parte de mim e me sinto acolhida por esse grupo de estudos completamente lunático.
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