Silêncio Ensurdecedor

Todos se calaram.

Não consigo mais encontrar nada dentro dessa mente que parece mais um buraco negro que engoliu todos os meus pensamentos.

Eles estavam aqui até agora. Onde foram parar?

Será que encontraram alguma lembrança e decidiram ir embora?

Ou perceberam que aqui não valia mais a pena ficar?

Não importa qual tenha sido a razão. Não tem nada mais aqui. Não há uma só voz falando nesse lugar.

E é impossível lidar com isso.

Queria só que aquela bagunça organizada retornasse.

Quando tudo fazia mais sentido, ainda que as coisas estivessem todas fora do lugar.

Aqule caos era o meu espaço seguro.

Agora, esse silêncio me angustia.

Encolhe a minha alma.

Só consigo aceitar a solidão e me esconder de mim mesma nesse vazio.

Esperando que um dia, alguém volte para me acompanhar.

Enquanto isso, vou convivendo com o som das minhas lágrimas molhando o chão.

Ecoando os soluços tristes de uma mente num vazio total.

Não aquele da meditação, do espaço zen.

Mas a da neurose e da ansiedade.

Quando esses momentos chegam, podem durar um minuto ou uma hora.

Como uma queda de energia. Um apagão solitário.

Uma pessoa procurando o caminho de volta dentro de si.

Buscando o botão do volume para, mais uma vez, acabar com o silêncio e voltar às atividades.

Criatividade com prazo de validade

Tenho medo de um dia não conseguir escrever. De ter secado completamente completamente a suposta fonte de criatividade que me permite expressar sentimentos através de textos e sentenças por aí.

Em alguns momentos, encarar a página em branco sem ter uma frase sequer para inserir parece uma batalha. Como se houvesse um monstro a ser derrotado. E ele vive dentro de mim.

Causando ansiedade por, naqueles instantes, minha mente ser incapaz de encontrar os sinônimos, os verbos, os conectivos.

De lembrar qual era a conjugação correta e “será que um dia todas as ideias acabam, que nem um rolo de papel que em algum momento termina”.

E, quando chegar essa hora, a festa acaba. A bagunça na minha cabeça, que traz grande parte da inspiração, não será mais responsável pelo fluxo de linhas curtas e frases, muitas vezes, confusas e sarcásticos que se transformam em textos.

É uma aflição imensa de me perder numa eterna rouquidão da voz literária que, egocentricamente, imagino ter.

De que a capacidade de escrever seja como um produto perecível que um dia vai vencer.

Por isso, às vezes negligencio o precioso sono para escrever um rascunho de crônica. (Que pode ser essencial… ou não)

Encho papéis por aí com frases desconexas, opções de enredo, lampejos de iluminação.

Desejando que esse treino diário me impeça de perder a única ferramenta que alivia meus temores.

E uma palavra de cada vez, alivio a tensão e desejo viver num mundo em que nunca falte tinta na caneta, grafite na lapiseira, bateria no celular e novas ideias na cabeça .

Porque enquanto houver vida, a criatividade nunca perderá a validade.

Eu, eu mesma e minhas neuras

Tem uns dias complicados. Que fazem a gente se esforçar pra manter o equilíbrio.

Pra não jogar tudo por alto. Ficar num cantinho chorando.

Umas horas em que os monstrinhos que vivem na nossa cabeça começam um Carnaval fora de época.

Fazem todo o barulho possível. Impossibilitam os pensamentos de seguirem uma trajetória linear.

E nos caminhos enrolados, as neuras aproveitam essa bagunça e invadem todos os espaços livres entre as curvas  descompensadas da mente.

Se aproveitam de um grão de areia de confusão e montam a praia inteira. Com banhistas falando, ambulantes vendendo.

Toda aquela aglomeração mental. Que, na verdade, só tem uma pessoa envolvida. Mas são tantos personagens que parece que a casa tá cheia.

Abandonada à deriva da mente, com as neuroses falantes. O que se sente é medo. Um frio na nuca. Arrepios.

De um lado ouço julgamentos sobre todas as escolhas. De outro medos e tensões sobre qualquer erro cometido ou possibilidade de erro futuro.

Medos irracionais. Coisas que fazem sentido, mas que não deveriam passar na timeline mental. Outras que só servem pra ruminação nada saudável.

Ai surge a vontade de virar uma bolinha chorona na ponta da cama e, se possível, desaparecer do mundo até que tudo se resolva.

Mas não há como fugir de si. E de todos os inquilinos da terra da ansiedade.

Sem fórmula mágica, o jeito é tentar silenciar, nem que seja um minuto, todas as bobagens ditas.

Não é fácil travar uma batalha quando o oponente conhece todas as suas estratégias, mas não dá pra desistir.

Uma pequena vitória por dia já vale muito. Lutando pra um dia, só ter “eu” dando pitaco na minha cabeça.

Aqueles que não serão nomeados

Existem alguns monstros que a gente insiste em dar nome.

Abrir espaço em nosso corpo e mente.

Mas descobri recentemente que isso aí é uma baita de uma furada. E que esse “apelido” só fez com que a situação se mantivesse ativa por mais tempo do que deverua.

Tá, parece óbvio, você diz. Maaas, sempre pensei que se colocamos uma cara ou uma nomenclatura em algo parece menos assustador.

Dá a falsa impressão de que conseguiremos enfrentar mais facilmente. Ou, que se gritar MUITO alto , vai embora.

No entanto, foi o reverso. Nomear tornou o monstro confortável, deu a impressão de que era bem-vindo aqui dentro. De que podia se manter no meu corpo, engolir a minha saúde de dentro pra fora.

Ele quis se apossar de um espaço que eu mesma liberei. E não devia.

Se ajeitou confortavelmente, fez a caminha. Cochilou, comeu, refestelou sobre a minha bondade e nem pagou o aluguel do local onde esteve.

Agora, cabô issaê. As coisas serão enfrentadas de outra forma, com a distância que precisam ter e a seriedade necessária.

Não vai ganhar alcunha nenhuma. Não nomearei nada que não faça bem e que não deva permanecer comigo.

Ainda que seja algo que me deixe confusa ou com medo, vou encarar de frente. Com as nomenclaturas oficiais, dos especialistas que conhecem a fundo e sabem como se livrar disso.

Não vai ter nem um cantinho para se abrigar em cima das minhas inseguranças.

Terá a condição de intruso, como já deveria ter sido desde o começo.

Não ganha casa, comida e cabeça desarrumada para bagunçar ainda mais. Ganha só o tratamento de “chá de sumiço” e cuidados específicos para ir embora. Que é a única coisa que merece.

Meus monstros não terão nome, sobrenome e RG. Eles serão ilustres desconhecidos. Como merecem ser!

E sairão daqui, assim que não houver mais com o que se sentirem confortáveis e acolhidos dentro de mim.

Botão do Descontrole

Mas não é possível, cérebro.

Toda vez a mesma coisa. Um passo em falso, um errinho (que às vezes nem foi um erro e você achou que foi…) e cê aperta o botão vermelho e entramos no modo descontrole.

Parece aquelas cenas em que as pessoas jogam tudo que está em cima da mesa no chão e faz a maior bagunça! Mas a diferença é que:

  • Não acaba num amasso entre os personagens principais.
  • Eu tenho que recolher tudo
  • Os pensamentos ficam embaralhados por horas, a cabeça vira uma anarquia em que todas as neuroses querem falar ao mesmo tempo.

Ai já começa a gritaria. A equipe TOC diz para ninguém tocar em nada que foi parar no chão até que possam pegar umas luvas e pensar em como incinerar os itens sem perder nenhuma informação vital.

Já a ansiedade, tá preocupada com tudo que envolve prazos, as listas para fazer, as anotações que fez sobre aquela palestra de 10 anos atrás ou a reunião que vai ter em 5 minutos e cadê material que a gente vai apresentar?

As neuroses já querem tacar fogo em tudo porque deve existir alguma razão para isso ter acontecido e aquilo que estava em cima da mesa foi comprometido. Agora tem que começar do zero, algo ali tá podre e precisa ser jogado fora.

A dona sanidade e seu time chegam afobados para tentar falar com todos os gritões, explicar que foi uma rajada de vento forte, um sinal do furação dos transtornos de equilíbrio que atacou a sala.

Avisa que medidas de segurança serão implementadas com a ajuda de profissionais, mas, nesse momento, todo mundo precisa ficar quieto e deixar suas funcionárias realizarem o procedimento de limpeza e organização.

Nesse momento, o prédio está com luzes piscando, alarmes soando.

Onde estão os procedimentos de emergência, vamos sobreviver? O que fazer?

É terrível não saber quem ouvir, com tanto barulho errado e a vozinha da razão tentando soar acima de todo o caos.

E aí, cérebro. Por que cê fez isso de novo?

Por causa daquela gota que transbordou o copo, o pensamento que anuviou a cabeça, desviou o foco?

Temos que trabalhar juntos, não sermos inimigos nessa guerra interna.

Somos uma equipe.

Então, pára. Eu pego o que caiu aqui desse lado, cê pega o do outro. Os dois juntos podem ajeitar essa sala mais rápido, deixar a mesa pronta pra próxima.

E vamos ver que, na realidade, nem foi tão ruim assim o que não deu certo. Em um segundo cê resolveria.

Deixa a equipe da ansiedade, da neurose e do TOC de folga hoje.

Só quem vai trabalhar é a coerência. E bora limpar essa bagunça de novo.

E aposentar esse botão do descontrole.

Foto por sum+it em Pexels.com

Telefone Fixo

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Telefones não são meus objetos favoritos. Definitivamente.

Ironicamente, houve um momento na infância em que um telefone de brinquedo era meu item preferido para horas de distração.

Ao longo dos anos, nossa relação se distanciou. O telefone fixo passou a ser um símbolo das necessidade de interação social ativa. Receber chamadas das amigas, ficar horas a fio falando sobre os acontecimentos do dia.

Algumas vezes isso até aconteceu, mas a pressão de manter toda essa socialização um dia foi pesada demais. Aos poucos, o telefone se tornou um objeto non grato na minha lista.

E assim segue, não gosto de ligar, nem ao menos atender.

Entre as duas opções, fazer a ligação ainda é o pior momento. A suadeira começa, palma da mão, testa e outras áreas críticas que exigem uma reposição de desodorante enquanto aperto os números.

Não me entendam mal, eu não sou anti-tecnologia. Ter o telefone à disposição é uma maravilha. Uma forma de conexão com pessoas que amamos que estão distantes (ou até pertinho, mas infelizmente não vivem embaixo do mesmo teto).

E o celular, minha nossa, é basicamente um membro do meu corpo, com tantas funcionalidades (seja para manter contato ou atividades variadas)! Sou viciada no smartphone. Só não me faça usar para uma das principais razões da sua existência: ligar para as pessoas.

Faço o possível com mensagens, e-mails e até algumas chamadas de vídeo. Admito que, às vezes, sou negligente e demoro mais do que devia, mas eu amo meus humanos e sempre prometo que isso vai mudar (e eles me amam também, porque fingem que acreditam.

Com o avanço da tecnologia, a linha fixa se tornou quase que obsoleta, com exceção das chamadas oferecendo produtos ou de membros mais “antigos” da família que ainda preferem esse meio de comunicação.

No entanto, nos últimos meses (com isolamento e vírus por aí), a linha fixa e seu toque alto tornou-se um alarme, um gatilho, um sinônimo de paúra extrema. E não tem nada relacionado ao contato, mas ao conteúdo.

Ligações na linha residencial, na minha cabeça levemente ansiosa, só pode significar uma coisa: NOTÍCIA RUIM.

Sério, cada vez que toca, o coração dispara, as mãos tremem. O medo de descobrir que alguma coisa terrível aconteceu me faz temer pelo som desse aparelhinho. Porque, convenhamos, que familiar ligaria só para falar que tá tudo bem?

É um pânico diário, passando as horas torcendo para que nenhum som ecoe pela casa.  Vivendo sobre a premissa de “notícia ruim chega rápido” e, para mim, só pode chegar pelo telefone fixo. Quem mandaria um ZAP tenso? (tá, sei que muita gente faz isso, mas entenda, não se trata de lógica…)

Faz bem para mim? Não.

Deveria sofrer tanto com isso? Também não.

Consigo controlar? Eventualmente.

Espero que as pessoas por aí não sofram com isso? COM CERTEZA.

Uma forma saudável de lidar é buscando pessoas (sejam profissionais ou pessoas de confiança) para ajudar a ressignificar isso? SIM SIM SIM!

Nossa cabeça funciona de formas bem diferenciadas às vezes, lidamos com situações e juntamos fatores para explicar alguns medos e ansiedade. Isolados, isso piora ainda mais.

MAAAAAAAAS, nem tudo está perdido, nem pra uma pessoa que tem um medo infinitos de telefones tocando (ou de ligar para os outros).

Se há problema, há solução. É nisso que acredito e essa convicção não vai mudar. Ainda que demore mais tempo do que  gostaria.

O jeito é respirar fundo, torcer pro telefone não tocar e tentar lidar com isso, um número por vez.

Foto por Pixabay em Pexels.com

 

Monstros noturnos

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Os pensamentos me atacam antes de dormir.

De alguma forma, o escuro se torna o combustível que ativa suas ações.

A liberação das garras vem logo que o sol se vai. E o golpe é rigoroso.

Como uma onda enorme quebrando no mar da minha mente.

E não há como pará-los. Preciso escrever, tirar o barulho da cabeça.

Ou serei engolida pelos monstros da ansiedade que gritam assim que toco no travesseiro.

As incertezas que se alinham à fronha e ficam impressas nas pálpebras fechadas.

São tantas vozes discutindo que eu não sei qual delas fala mais alto.

Preciso focar. Dar atenção à elas, anotar suas lamúrias. Ver se dessa forma ficam mais quietas.

Tenho sorte na maioria das noites, a caneta, o papel, o teclado, os posts me salvam.

São a torneira que abro para deixar toda essa água correr.

Esvaziam minha mente, liberam o peso do peito.

E mantém, quase intacta, a minha sanidade.

Se não fosse isso, os monstros estariam agarrados em mim nesse momento.

Termino essa frase sabendo que, pelo menos hoje, eles ficarão quietos, presos a essas palavras que escrevi.

Então, só por hoje, boa noite monstrinhos. Amanhã, se der sorte, a gente se esquiva por aí!