Recomeçar

Todo ano a mesma coisa. Um novo começo, novas oportunidades de criarmos listas intermináveis de metas que acreditamos serem possíveis de finalizar ao longo de 365 dias.

A nossa fé inabalável de que “este ano será diferente” traz um tipo de conforto, um quentinho, mas também um certo pesar no coração. Por mais que tenhamos um otimismo quase que pueril, também nos pressionamos e enchemos o ano de uma expectativa que ele nunca pediu.

Como a virada de um dia para o outro pode ser tão cheia de significados, energias e chances?

Não vou dizer que sou imune a isso. Bem longe disso. Ainda que ative minha ansiedade, sou adepta às resoluções, às metas. No entanto, este ano eu precisei impor limites.

Para mim.

Para as minhas expectativas.

Para as minhas listas intermináveis que se amontoam como os fantasmas dos meus planejamentos passados.

É impossível viver com a constante necessidade de se provar para o mundo e para si mesma. Fica complicado seguir em frente com tantas malas para carregar. O fardo da produtividade, da mudança, do autoconhecimento e da evolução.

Sigo querendo completar cada um desses itens, mas não com check lists formatados por um bloco de meses, mas como propósitos e check points. Uma gamificação da existência.

Não preciso ler todos os livros atrasados da minha estante esse ano. Mas eu vou ler um pouco todo dia. Porque eu gosto e me faz bem. (De quebra, alguns atrasados sairão do cantinho empoeirado da prateleira).

Da mesma maneira, ainda não estamos no ano em que eu falarei todos os idiomas que desejo. Ainda assim, algum alfabeto novo será memorizado e novas palavras aprendidas. E, com certeza, aprenderei frases importantes como “Olá – Desculpe – Por Favor e O banheiro fica pra qual lado?” (Mesmo o Duolingo querendo me ensinar sobre beber leite e arroz rosa às vezes… hahahahaha)

Definitivamente, não vou chegar em 2024 com uma nova versão super saiyajin de mim, mas, pelo menos, espero não estar ansiosa por causa de tantas metas autoimpostas.

Aliás, nada de resoluções anuais, só propósitos a longo prazo. Para a vida. Para mim.

Ano novo não vai ser vida nova, mas uma mentalidade um pouco diferente. Se melhor ou pior, só o tempo irá dizer.

Será que volta?

Parece que a fonte secou.

As frases não se conversam, não combinam.

Todas essas letras se embaralhando na minha mente enquanto tento fazer com que os caracteres façam algum sentido.

Em pânico, encarando o teclado como se fosse um alfabeto completamente novo.

Como se formam as sílabas? Qual é a ordem das palavras na oração?

Onde foi que eu perdi a minha semântica? Cada o sentido que estava aqui até agora?

Folhas em branco, páginas por preencher, posts aguardando. Canetas que não vão perder a tinta tão cedo.

Aguardo o momento em essse furacão vai deixar de me rodar. Esperando encontrar o olho da calmaria que me trará o foco e a visão para voltar ao rumo.

Tudo ajeitado em cima da mesa, os instrumentos corretos, mas a melodia não esta em harmonia.

Sinto muito pela crônica que não existiu como deveria. Ela está guardada em algum lugar, na expectativa de que vou encontrá-la em breve.

Não se preocupe, amiga. Segura a emoção aí. Estou perdida no caminho, mas alguma hora eu chego. Prometo que vou te buscar!

Por enquanto, estou aqui tentando de tudo para ver se a palavra… a frase… a escrita… volta! Será que volta?

Nunca o Suficiente

Sinto como se todo dia fosse uma batalha perdida com você.

Se eu estou correndo, ainda parece que é devagar demais.

Se tenho uma grande ideia, parece sem sentido.

Se eu cometo um erro, é o fim do mundo.

Todos são responsáveis pela infelicidade que o mundo te traz. Nunca seremos o bastante para que tenha uma existência plena. E isso é difícil de lidar.

Não importa o que eu faça, nunca consigo chegar perto das suas expectativas.

Sejam as minhas escolhas, atitudes ou qualquer traço da minha personalidade.

Constantemente, sinto como se fosse uma peça completamente errada nesse quebra-cabeça.

Um triângulo tentando se encaixar no espaço de um quadrado.

Não sei se as minhas decisões são as piores possíveis, se eu sou uma pessoa inadequada de todas as formas possíveis ou se as suas expectativas estão altas demais.

Parece que, quando tento me equilibrar, você encontra uma maneira de me desmontararcomo uma Jenga. Minha estrutura é instável…

Mais uma vez, recolho todos os meus caquinhos do chão. Pensando onde foi que eu errei (revivendo o que você considera o equívoco). Remoendo aquilo que fiz ou que deveria ter feito.

Pensando em como as coisas seriam diferentes se eu fosse por outro caminho.

Mas não tem jeito, sempre fracasso. Cometo mais um erro no seu grande caderno de vacilos que são as minhas atitudes diárias.

Sei que, no fundo, não consegue controlar isso. É mais forte do que você. Mas, se soubesse como os meus pedaços já estão estilhaçados a ponto de alguns deles não se encaixarem nunca mais, será que faria algo diferente? Seria menos exigente? Conseguria separar o que é seu e o que é dos outros?

E termino essas, dividindo a culpa por coisas que nem sempre são minhas, somatizando aquilo que você me fez entender como falhas. Eu te amo, mas tem alguns momentos em que esse fardo é pesado demais.

Gostaria de, um dia, chegar a um lugar comum em que não houvesse tanta pressão, de nenhum lado. Um espaço seguro para que você não precise se perder dentro da sua própria escuridão e nos levar para o fundo do poço de cobranças. 

Desejo que um dia, eu seja o suficiente para te dar orgulho e alegria.

Livroterapia

A crônica mudou até de dia essa semana, mas é por uma boa causa.

Vamos celebrar uma data muito importante (por vários motivos). É aquele momento em que nós agradecemos por todas as histórias e seus autores. Seres iluminados que criaram universos, personagens e narrativas que nos acompanham, acolhem e acalentam em momentos bons e ruins.

Não sei o que seria de mim sem a literatura. Esses companheiros que parecem silenciosos quando observados nas estantes, mas são cheios de vida, sons e alegrias. Trazem em suas páginas um mundo completo, conhecimento, amor e ranço (sempre tem aquele plot tenso)

Impossível não ser grata por tantas horas que eu precisei me isolar de tudo e de todos, quando o barulho da realidade era alto demais e eu só precisava me esconder nos corredores de Hogwarts ou entre alguns arbustos no País das Maravilhas até que pudesse conviver em sociedade novamente.

Graças aos livros, todos os meus parafusos, que estão dentro da sala de aula da quinta série que é a minha cabeça, podem não estar em seus devidos lugares, mas pelo menos estão reunidos mesmo espaço. (Assim como os alunos, estão em pé, conversando com os colegas…)

Cada nova história que me envolve, trama cativante que me deixa de cabelos em pé ou sem conseguir dormir para saber o que vai acontecer. Todas as linhas, parágrafos, pontuações. Elementos importantes, são as partes que compõe a minha terapia literária. Os semi-psicólogos da minha existência (e dividem o trabalho árduo com a minha psicóloga de verdade. xD)

Mais do que uma crônica, aqui é uma carta de agradecimento. Pelas aventuras vividas e aquelas que ainda virão. Pelas lágrimas que me viram derramar, os sorrisos que trouxeram. Pela disponibilidade eterna para me levar até algum lugar bem longe sempre que precisei.

Além disso, é uma semana especial para as crônicas. Foi no Dia do Livro de 2019 que a primeira delas foi publicada. São 03 anos de outro tipo de terapia semanal. Assim como os livros, a escrita é uma forma de desopilar o fígado e compartilhar os pensamentos.

Para todos os leitores, vamos comemorar com os nossos livros favoritos. Relendo, indicando para alguém, presenteando ou somente conversando sobre eles. (Para que esse hábito cresça nas casas brasileiras). Aos autores, força nessa luta diária de levar ao público suas criações. Não é fácil, mas temos muita gratidão por todo o esforço!!

Reminiscências

Parece que ainda está aqui.

Sinto a presença, ouço todos os sons.

É como um campo de força que segue ao meu redor.

Passo pelo cômodo vazio e consigo remontar o quadro de como tudo era antes.

Cheio.

Barulhento.

Desordenado.

Feliz. Amoroso. Completo.

Quanto tempo faz? Dias, meses ou anos?

Jurava que seria para a eternidade. Sempre haveria mais um dia para ver os sorrisos, ouvir as risadas, aproveitar os abraços.

Mas agora a saudade me invade, com seu grito silencioso que me ensurdece.

Fico encolhida nos cantos da minha mente. Tentando recapitular os melhores momentos com se fosse um daqueles vídeos de aniversário ou casamento.

Gostaria de ter dito mais um te amo, sinto orgulho, não vá embora ainda.

Não deu tempo.

Espero que as minhas lembranças e esse sentimento maravilhoso cheguem aí. Em um embrulho bonito, repleto de amor.

Nos vemos por aí, um dia, quem sabe.

Até lá, tudo o que ficou para trás vai manter a memória viva.

Reiniciando…

Como é difícil apertar o botão de restart nas coisas da vida, não é mesmo?

Não poderia ser algo que nem no videogame? A gente acostumada cas fase tudo, já sabendo de cor e salteado como derrubar um chefão ou o outro. Conhecendo o macete para fazer o personagem trocar a cor da roupa só com os códigos de algum fórum perdido por aí…

Mas não é assim que funciona.

Temos que recolher todos os papéis que jogamos para o alto no momento em que decidimos que não dava mais para seguir da mesma maneira.

Na hora, pareceu uma boa ideia. Por que depois fica tudo tão complicado e confuso?

Ter que recalcular a rota em plena viagem parece tão tenso, né? É o mesmo sentimento de ter que começar de novo depois de tantos anos no mesmo caminho.

Assustador? Muito.

Desafiador? Sempre.

Complexo? Obviamente.

Recompensa? Quando eu descobrir, aviso.

Então pessoal, negócio é tocar uma playlist motivadora no fone de ouvido, escolher o melhor cropped e reagir. Cabeça para cima e  nenhuma coroa vai cair!

Todas as frases e memes possíveis para esconder o medo paralisante de não dar certo.

Se o plano falhar. Se o código não trocar a roupa do personagem, mas apagar todo o progresso, nóis faz como?

Senta. Chora. Respira e recomeça.

Não tem como garantir que algo vai funcionar. Seja um projeto em andamento ou aquele que está em sua fase inicial.

Ter que reiniciar tudo é aterrorizante. Dá vontade de correr de volta para a zona de conforto a cada cinco minutos. Mas, com tanta gente ai que conseguiu, por que não arriscar? Só dá certo para quem tenta. Melhor testar para ver no que dá do que passar a vida inteira pensando no que teria acontecido.

Para tudo mundo que tá no mesmo barco, não importa qual seja a área, se está recomeçando, dá aqui esse remo e vamos juntos.

Se não for o caminho ideal, pelo menos teremos ótimas histórias da jornada! Bora lá jogar os dados e enfrentar o tabuleiro da vida!

Eu esqueci…

Tava na ponta da língua.

Bem no cantinho da mente.

Mas eu esqueci o que era. Fugiu tão rápido quanto apareceu.

Era para se tornar a próxima epifania da minha vida.

A virada em que descubro a resposta para a perguntar universal. O meu 42 particular (entendedores entenderão)

Aquela frase genial. O réplica ou a tréplica que deixam o oponente sem palavras e observando a sua genialidade fluir.

O tema para a história maravilhosa. O plot de uma série que teria sucesso garantido.

A declaração perfeita. O discurso mais cativante.

Ficou perdido na quina de uma sinapse qualquer. Largado junto com as ideias que nunca saíram do papel, que rolaram pelo ralo, emaranhandas nos fios de cabelo e shampoo (porque é de conhecimento geral o fato dos pensamentos mais brilhantes surgirem durante o banho, principalmente ao lavar o cabelo).

Esqueci o que eu queria dizer na crônica de hoje também… ficou assim, a possibilidade, as palavras jogadas e minha tentativa de somar alguns caracteres e produzir algo.

Quem sabe eu não lembro no meio do caminho… mas vai ficar para a próxima.

Aí vem o sol…

O sol brilhou na minha mesa.

Essa não é uma paródia da música famosa.

Não é uma versão astronômica, nem astrológica de algum fato.

Nem um comparativo relacionado a alguém.

É uma constatação. E uma confissão de que fui surpreendida por ele.

Quem vive nessa era de cubículos e lugares fechados. Horas de estudo ou trabalho em pequenos ambientes que mais parecem celas particulares sabe o que eu estou descrevendo.

Tudo anda tão escuro.

O mundo parece apagado.

Então, num raio veloz, sem dar sinal de que chegava, o sol invadiu a minha mesa.

Eu, que segurava aquilo que é tão inerente à minha mão quanto os meus dedos (acertou quem disse celular), achei que era a lanterna ligando.

Verifiquei se não havia conectado algo sem querer, confirmei se não estava gastando a bateria à toa.

Mas era o Astro-Rei dando seu alô.

Afirmar que eu não sabia diferenciar a luz de um raio de sol vindo da fresta de uma janela que está quase que completamente coberta me fez questionar algumas coisas.

Como substituímos uma luz tão linda e natural por esses bulbos artificiais e fingimos que essa é toda a realidade existente? (Que conste nos autos: eu sou muito fã de eletricidade, não gostaria de viver à base de velas e acho o desenvolvimento da tecnologia uma maravilha, beleza?)

Só que muitos saem tão cedo (ou nem saem de casa) e voltam quando já está escuro. Quanto de nós também não reconheceriam o “Bom Dia” solar?

Pudera que ninguém tem mais vitamina D, tem uma galera que não fica nem cinco minutos com a cara para fora toda dia!!

Perdemos a perspectiva nessa era de espaços fechados e isolamento (incluindo o involuntário)

De hoje em diante, faço uma promessa a mim mesma de aproveitar mais a luz natural. Lembrar que o mundo lá fora também existe.

Que a claridade faz bem e invade todas as frestas quando você menos espera. Para iluminar, aquecer ou dar um ânimo em um dia nublado.

E você, deixou o sol entrar ai hoje?

Contato de Emergência

Naquele momento de necessidade, tensão e perigo (pode ser um risco baixo ou altíssimo).

Quando tá tudo desmoronando, uma bagunça sem precedentes e não dá pra saber como resolver problema. O caminho está travado, cheio de pedras em empecilhos (sejam eles reais ou frutos da cabeça de quem o sofre).

E é nessa hora de desespero que vem À mente a alma boa que pode colaborar com as coisas. A primeira ligação, quem salva a pátria.

O indivíduo que terá a solução ou, pelo menos, vai deixar os amigos chorem em seu ombro caso tudo dê errado.

Se você é essa pessoa, sabe o que eu tô falando .

Cê é o famoso contato de emergência.  O adulto responsável. 

Mas não é todo mundo que pode ser assim.

Com a plenitude de quem mantém a calma mesmo com a desinteligência mais preocupante.

É triste descobrir que nunca será você esse ser iluminado. 

Dá a impressão de que algo faltou na sua organização interna. Como se um dos componentes de humanidade estivesse em falta na hora de te fabricar.

Queria tanto, mas nunca serei o contato de emergência de alguém.

Não tenho o tempo de resposta necessário, provavelmente, nem a parcimônia.

É #chateante saber que nunca poderão depender de mim para ajudar (ou atrapalhar) em um momento problemático.

Não sou responsável, disponível. Acessível.

Ainda que tenha tantas possibilidades de contato, sou como um telefone fixo.

Sabe quem tá lá, mas não vale tentar. 

Sinto muito por todos que me conhecem. Por não poder ser a pronta ajuda.  A pessoa que vocês merecem

Mas, se precisarem de um retorno em até 72h, talvez (TALVEZ), eu consiga.

Vou trabalhar isso aqui dentro.

Enquanto isso. Agradeço a todos os meus contatos de emergência.

Vocês são seres iluminados que me impedem de cair no buraco da vida.

Seguiremos…

encontrando o conforto no desconforto.

A luta diária é uma cama de faquir, com seus afiados pregos apontados a gente. Mas que, com toda a capacidade de adaptação e criatividade,  encontramos a forma de nos ajeitar.

Contra todas as adversidades e obstáculos que aparecem no caminho.

Buscando a melhor maneira para não se machucar toda. (mesmo quando algumas feridas serão inevitáveis e outras, até necessárias para a evolução).

Dia após dia. Quedas e ascensões.

Não desistindo nunca, seguindo em frente.

Resistência e resiliência.

Cobrindo tudo nossos multibraços, as inúmeras tentativas de conseguir as melhores saídas para os piores momentos.

Tem horas que dá vontade de jogar tudo pro alto, mas se aquela joça cair pode machucar mais ainda. (E, no fim, nós teremos que recolher).


Nos desfazemos, desmontamos e remontamos.

Milhares de peças recombinadas em formas que nunca imaginaríamos.

Um tetris interno. Torcendo para as coisas se alinharam até o fim do dia.

Pra tombar na cama depois de tanta correria. Vamos ajustar o travesseiro, nos encaixar. Rolar para todos os lados se a cabeça não desligar.

Deixaremos as luzes acessas ou apagadas, com som no ouvido ou só as vozes da cabeça.

Tentaremos dormir, descasar e levantar para a próxima batalha (seja ela interna ou externa).

Evoluindo, lutando, vencendo. Seguiremos!