Olá.
Cê tá me vendo aqui? Provavelmente sim e não.
Ah, não sou aquela pessoa que está com o namorado, conversando de mãos dadas e olhos fixos, lembrando que essa música tocou no primeiro encontro deles. Rindo de como foi engraçado o fato dele ter cantado alto demais o refrão sem perceber.
Também não sou a moça dançando como se não houvesse amanhã.
Infelizmente não tenho estrutura para rodar daquele jeito. Nem sozinha e nem acompanhada. Eu danço mais contida, às vezes pulo também, mas nada que ataque a labirintite!
Não, eu não sou aquela pessoa que tá ali plena e sozinha no bar, com uma postura de que o espaço é todo dela. Despreocupada, de olho no palco, bebericando seu drink.
Também estou sozinha. Mas sou a humana colada na parede. Ali ó, no cantinho. A que as pessoas pedem licença pra chegar até o caixa. A que tá com cara de que quer se tornar uma coisa só com o espaço.
Não que estar aqui seja ruim. Eu quis sair, aliás, eu quero estar nesse rolê. É algo que eu fiquei esperando ansiosa. Mas não estou 100% confortável com a situação. É um processo que eu preciso vencer.
Mas, veja, eu não desisti, ainda que a ansiedade tenha gritado que eu deveria ter ficado em casa. Vim até aqui pra assistir esse show, assim como todos vocês que estão tranquilos.
Vocês que eu tô observando. De um jeito não stalker assassino. Mas de uma forma antropológica e pesquisadora.
O casal, a moça independente, a que tá rodando, você que está com o seu amigo (inclusive, morrendo de vontade de dançar, mas contido em seu sacolejo de esqueleto)
Eu queria ter coragem de ir até aí, dar um oi. Dizer que achei sua dancinha uma graça, dizer ao casal que eles parecem fofos, dizer à moça rodando que ela vai passar mal.
Mas eu tô aqui, presa na parede. Procurando parecer calma e descolada. E torcendo para que da próxima vez eu saia desse cantinho, vá até o meio da pista e aproveite sem pensar em nada, que faça uma amizade, que viva um pouquinho mais.
Enquanto isso, eu vou aproveitando a minha vitória pessoal, a saída da zona de conforto residencial. Aos ouvidos tapados para a ansiedade gritona e a vida que eu não desperdicei pelo medo de ficar escondida no meu mundinho privado.
- Foto por Mark Angelo em Pexels.com
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